sábado, 15 de fevereiro de 2014

Sonhando com a Luz

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São Vicente, 28 de Setembro de 1996.

Hoje pela manhã tive um estranho sonho.
Estava na cozinha de uma casa onde morei quando criança. Havia ali uma mesa e em pé, à minha frente, do outro lado da mesa eu via meu pai em pé, de olhos fechados e sentia que ele estava com grandes dificuldades para se locomover. Quase não se mexia e sua face transmitia-me uma sensação angustiosa, tanto que lhe peguei nas mãos; pedi que fosse embora dali, sem entender o porquê dizia isso a ele, apenas pedia:

-Vá embora daqui, pai, por favor!
Até agora não sei o significado disso. Sei que ele desapareceu diante de mim e me lembro de que nesse instante havia um homem junto dele que desapareceu também ao mesmo tempo. Ao me voltar para a porta de saída da cozinha para o quintal, vi um rapaz, conversei algo com ele e não senti medo e nem aquela angústia de instantes, coisa que estranhei, pois ele me era desconhecido e àquela figura que se parecia meu pai, eu senti um pouco de medo, medo desconhecido...
Pois bem, perguntei-lhe o nome e outras informações que por hora não me lembro. Ao me preparar para sair, chegaram-se à porta muitas pessoas vindas do quintal; uma mulher com aparência de uns trinta anos ou mais; os outros eram muito jovens; de cabelos castanhos, lisos, levava uns papéis e uma pasta às mãos. Ela parou à entrada quando perguntei:
-Quem são vocês?
Ela, pelo que me lembro com certo vagar, me respondeu:
-Somos um grupo de espíritos e nos reunimos sempre aqui.

Como sempre sonho com aquela casa, inquiri:

-Mas como eu nunca os vi aqui?
Ao que ela me respondeu:
-Nós sempre estivemos aqui, todos nós e falamos muito mal de você!
A essa frase ela me olhou com grande cinismo e desdém. Senti algo estranho por tal explicação, não foi raiva, não tive vontade de vingar-me ou ofende-la, senti-me como que estupefata e resignada com tal atitude, só pude responder:
-É, isso é o que as pessoas mais fazem na vida, tanto de um lado, como do outro: falar mal dos outros. Sei que no fundo isso não me abalou sobremaneira! Ouvi conversas vindas do lado de fora, ao que quase todos foram saindo ao quintal, chegaram alguns outros com notícias que interessavam à maioria, parecia se tratar de um grande espetáculo que estava a acontecer nos arredores. Saí também e ao passar pelo portão de saída, notei que não mais era o portão de madeira que meu pai fizera quando lá moramos, parecia uma grade de ferro. Pensei em voz alta:
-Ah! Não é mais o mesmo portão e em silêncio continuei:

-Mas também aqui não é a mesma dimensão (?)...
Saí. Chegando à calçada, a escuridão da noite era grande e quase não se via a rua, não havia postes iluminando-a. Olhando à esquerda, via-se uma imponente construção em forma piramidal transparente e iluminada em diversas cores e algo em frente que parecia uma praça também muitíssimo iluminada. Não sei se era mesmo muito iluminada, pareciam ser seus próprios contornos feitos de luz, como lâmpadas de neon coloridos e pela total escuridão do entorno, o efeito iluminante era maior ainda.
Curiosa, alcei voo para lá. Chegando à entrada, havia guardas na entrada dos portões. Um guarda me impediu a passagem, o mesmo acontecendo com outros à minha volta. Muitos reclamaram e também eu, dizendo:
Por que não posso entrar?

Ele disse: 
-Aqui não, ninguém pode passar.

Perguntei:

-Tenho que pagar para entrar?
-Não sei, acho que é de graça, pergunte ali ao lado. Olhei à direita e havia uma entrada menor com uma mulher à frente que anunciava:
-Podem entrar, venham ver o espetáculo! 
Começou a enumerar as atrações, as quais eu não me lembro agora.

Quando ultrapassei a linha imaginária que delimitava o espaço interno, senti que algo estava errado, o belo ficara do lado de fora, lá dentro a luz desapareceu, o ambiente se tornou sombrio, frio e a beleza sumira. Nada de grandes atrações. Vi-me num espaço pequeno como um tanque circular parecido com esses de aquários onde os animais marinhos ficam em cativeiro. Esse tanque redondo, dividido concentricamente em pelo menos três partes com paredes mais baixas que a borda, onde me debrucei a tentar visualizar o que dentro pudesse ter. Andei à sua volta e de qualquer ponto eu via as três divisões e o fundo onde estavam coisas que me esforcei muito para enxergar o que fossem. De repente comecei a ver formas que se pareciam animais que, de início, pensei serem porcos jovens por causa daquela cor rosa-pálida, depois me pareciam embriões humanos. Num tanque eles eram pequenos e numerosíssimos, noutro, um pouco maiores e em menor quantidade, no terceiro, uns poucos e muito grandes. Aos poucos fui enxergando melhor e vi que estavam todos submersos numa substância que parecia líquido como água evaporando, um vapor transparente. Não se percebia ali nenhum movimento que se pudesse dizer que estivessem vivos. O líquido estava absolutamente parado e esses seres, animais, embriões ou o que fossem também estavam imóveis, inertes, sem vida aparente. Senti uma enorme decepção pelo meu grande engano, estranho, me sentia mais decepcionada comigo mesma do que com o engodo a que aqueles seres me haviam proporcionado. Lembro-me que falei às pessoas ao meu lado:
-Onde está o espetáculo? Aqui não há nada do que prometeram.
Tomei o rumo da saída dizendo:

-Como podem existir pessoas assim, que enganam os outros dessa maneira?
Balancei a cabeça e as pessoas que me seguiam, também decepcionadas, uma família, um casal e seus filhos. Eles também falavam muito sobre a falsa promessa do espetáculo e foram tirar satisfações com a mulher da entrada. Ela tentou explicar, nem quis ouvir, fui saindo.
O homem dizia:
Onde estão as atrações? Lá dentro não há nada de belo, vou embora e...
Ela não o deixou terminar; eu já estava de costas quando a ouvi dizer que dentro daqueles tanques também havia “bolas do tempo”, não sei o que são e nem me interessei em saber, mas parece que essas “bolas do tempo” são coisas muito interessantes, pois o casal, ao ouvir isso, surpresos perguntaram os dois ao mesmo tempo:

-Onde?

E ela os encaminhou para dentro novamente dizendo que lhes mostraria como eram e coisa e tal...

Saí de lá e fui seguindo rua acima até chegar à esquina de uma bifurcação, ali era mais escuro que qualquer outro lugar com um grande abismo, na verdade uma enorme cratera muito funda. Olhei para ele e comecei a dizer apontando para o abismo:

-Faça-se a Luz na escuridão!
-Faça-se a Luz na escuridão!

Espantei-me com tal atitude, pois conscientemente sei que não tenho poderes para tais coisas, mas ao mesmo tempo, eu não conseguia parar essa voz de comando. Estranhamente o abismo foi se fechando a cada frase até ficar apenas uma pequena abertura no chão. De repente, dessa abertura e da terra em volta começaram a explodir pequenas formas luminosas que se pareciam com pequenos cogumelos. Apareceram muitas pessoas atraídas pelo fenômeno, pessoas de todas as idades. Jovens, crianças e velhos não eram muitos, mas nenhuma fase de nossa vida, da infância à velhice estava ausente; como fosse uma amostragem.

Aquelas pequenas explosões pareciam me alegrar e divertir as pessoas que se aproximaram do pequeno orifício. Até que senti intimamente algo muito maior vindo de muita profundidade e tentei alertar a todos que se afastassem prevenindo que poderia haver uma grande explosão. Algumas pessoas correram. Lembro-me de ter segurado a mão de um senhor trazendo-o para perto de mim, longe da fenda da terra.
Aconteceu a explosão. Não foi o que imaginei. Apenas uma matéria pastosa e esbranquiçada saiu da fenda não atingindo mais de metro de altura; um menino não ouviu meus avisos e ficou ali em frente ao orifício. Quando a substância saiu, ele pegou uma capa e protegeu sua cabeça. Depois da explosão a pasta caiu sobre o menino e se tornou como pedra. Ele tirou a capa de sua cabeça; houve muito riso por considerarem engraçada a situação do menino, apenas um garoto não gostou, pois a capa lhe pertencia e se estragou e estragou-se também o objeto que ela antes cobria.
Fui me afastando dali na intenção de alçar voo. Não conseguia ir muito alto, parecia que eu estava rente a um edifício e os varais nas janelas me atrapalhavam com suas roupas.
Uma jovem de cabelos castanho-claros começou a me acompanhar. Eu subia um pouco na vertical, ela subia e me alcançava. Fiquei intrigada e lhe perguntei:
Por que você me segue?
Ela nada respondeu; apenas me olhou.
Perguntei se tinha dificuldades para voar e se queria ajuda e sem esperar resposta peguei sua mão para voar pelos céus, mas ela parou e me disse:

-Não podemos voar tão alto! É proibido, o nosso Deus vem e nos castiga.

Não sei por que eu lhe respondi que não se preocupasse; que não era perigoso; eu já havia feito isso muitas vezes e que quando alcançava alturas que para mim não eram próprias, que o meu Deus não vinha pessoalmente me castigar. Eu sentia e sabia que ele apenas colocava nuvens espessas à minha volta que eu, ao me sentir desorientada, era obrigada a descer um pouco para enxergar as coisas, os campos, as cidades, para voltar a saber onde eu estava e com um sorriso eu lhe falei:
-Não se preocupe, sentindo no meu íntimo que o “nosso” Deus não era um Deus tão “bravo” e punitivo como disseram a ela. 
Eu sentia no meu íntimo que ele me amava e que eu o amava e sabia que muitas das nuvens que por vezes colocava em meus voos eram por esse mesmo amor, para que eu não errasse o rumo, tentando obstinadamente percorrer caminhos a mim ainda impróprios por não conhecer o necessário, mas que certamente, não eram proibidos.
Sentia-me assim, tranquila, conversando com a jovem desconhecida, não percebi quando tudo se dissipou, quanto tempo se passou, só recordo-me da campainha tocando, quando me vi impelida a levantar e atender a porta.
Resolvi colocar no papel esse sonho, para, quem sabe, entender algum dia o seu significado, se é que há algum para ser explicado.

Dulceny Cerqueira Leite





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