domingo, 13 de maio de 2012

SONHO (1996 OU 1997)


Onze anos...
Talvez não me compreendam, mas senti a necessidade de expurgar lembranças que me marcaram muito - quem sabe pudéssemos vibrar em uníssono mais vezes para o bem comum da humanidade.
Terei feito eu o suficiente?

Do sonho: 

Já há algum tempo tive um sonho em que me encontrava na recepção de algo que parecia um estabelecimento público; um centro de estudos religiosos, filosóficos talvez; pois ao me debruçar sobre o balcão onde uma senhora de meia idade ( a única que lá estava a trabalhar, mesmo tendo o lugar muitas mesas), cabelos meio curtos num tom que me pareceu caju (ela usava óculos), meus olhos se ativeram a um livro de capa marrom; desses de capa dura, bem antigo; que se encontrava numa bancada logo abaixo do balcão e onde se lia o título em letras garrafais escritas com tinta dourada:

“CRISTO É REAL”

Fiquei algum tempo olhando para ele e a imagem que eu via me parecia tão real como se aquele lugar existisse verdadeiramente, tal a noção espacial e a sensação táctil e física que eu tinha de meu próprio corpo e dos objetos que eu tocava; principalmente aquele livro; como que me convidando a lê-lo. Não o fiz, pois a senhora que ali estava, fazia o trabalho dela com tamanha concentração que não tive coragem de interrompê-la, também não peguei o livro, pois não era meu.

Apareceu uma garota, parecia uma jovem adolescente, mulata clara, de cabelos bem curtos. Ela usava um vestido estampado, mas de cores discretas. Em momento algum disse qualquer palavra. Ela me olhou fixo nos olhos e entendi o que queria dizer. Caminhei com ela até uma janela que dava para a rua e começamos a apreciar a paisagem lá fora.

Lembro-me que dali eu via as torres do que me pareceu uma construção oriental (Médio Oriente), com altas torres; parecia uma dessas igrejas ou templos.

Ao lado direito desse templo havia uma construção que certamente era um pequeno shopping center.

De repente, comecei a ouvir um estrondo tamanho que vinha das profundezas da terra. As torres do templo começaram a balançar e acabaram por desmoronar, desmancharam-se aos meus olhos e o interessante é que entre os blocos de que elas eram feitas, parecia não haver argamassa alguma os ligando, como se elas houvessem sido apenas empilhadas, sendo assim, uma construção muito frágil.

Assim que ruiu o templo, o shopping começou a desmoronar também. Pessoas corriam apavoradas, havia muitos gritos, choros e muito barulho.

Meio que sem entender o acontecido, a jovem e eu nos olhamos e eu lhe falei ao compreender que se tratava de um grande terremoto (parecia):

-Se a igreja caiu, o shopping caiu, a nossa “casa” também vai cair.

Instantaneamente o chão nos faltou e nós duas caímos junto com os pedaços da construção. Surpreendentemente, nenhuma de nós duas sofreu sequer um arranhão.

Falei a ela para irmos olhar os estragos nas outras edificações para ver se poderíamos ajudar as vítimas. Saímos andando pelos escombros e nos encaminhamos pelas ruas até o shopping.

Havia muita destruição. Muitas pessoas gemiam por entre os blocos e lajes de concreto caídos, outras estavam lá a socorrer os feridos, assim como nós duas também nos dispusemos a fazer.

E foi assim, nesse verificar dos fatos que fui perdendo a consciência do que estava acontecendo até que acordei em minha cama no meio da noite...

Que estranhos sentidos nos falam quando nos abandonamos ao silêncio do nosso sono e sonhamos...

Dulceny (1999)


Em nove de setembro de dois mil e um, ao ler esse texto para minha prima Antonieta, um nó em minha garganta me impedia a leitura. Ela me pediu que respirasse fundo e fosse até o fim. Comentei que já por muitas vezes lera o mesmo texto, mas que nunca aquela cena havia me tocado tão profundamente. Chorei o resto daquele domingo sem entender o motivo. Em onze de setembro acordei com o telefone tocando – minha mãe avisando da morte do então prefeito Toninho na noite anterior, nem meia hora depois ela ligou novamente pedindo que ligássemos a TV. Aquelas cenas me pareciam familiares, vi tudo como se já as tivesse visto. Mas do texto eu só me lembrei dias depois...

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